quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Análise do filme "Narradores de Javé

Análise do filme “Narradores de Javé”

O presente trabalho tem como objetivo o estudo da produção cinematográfica latino-americana contemporânea a partir da perspectiva dos estudos sobre tradução cultural. Para tanto, deteremos nossa análise no filme de Eliane Caffé, intitulado "Narradores de Javé", baseando-nos nos textos de Renato Ortiz (ORTIZ, 2001) e na teoria de tradução de Walter Benjamin (in: ANGEL VEGA, 1994).
Enquanto nação pós-colonial, assim como os demais países da América Latina, nós brasileiros vivenciamos até hoje uma profunda assimetria cultural em relação ao chamado "mundo desenvolvido", do qual continuamos a receber influências e, muitas vezes, a copiar seus paradigmas. Uma assimetria que se confirmará em relação ao cinema: ao longo de sua história, o cinema brasileiro manteve-se numa silenciosa submissão à voz do outro, sofrendo de uma auto-desvalorização e sendo devorado pelo discurso alheio. Assim, quando o cinema sonoro chega à América Latina, o Brasil, bem como a Argentina e o México, compartilharão do mesmo modelo de desenvolvimento cinematográfico inspirado por Hollywood.
Suzana Lages (LAGES, 2002: 14-5), em análise sobre a tradução em Walter Benjamin, parece refletir bem a situação da cinematografia latino-americana na primeira metade do século XX: segundo a autora, existe um tipo de tradutor que, na medida em que admira o original, a autoridade do autor, se apaga, para dar vez e voz ao outro, ao alheio, emudecendo o elemento autóctone. Somente a linguagem vanguardista do Cinema Novo é que reverterá este quadro, ao questionar a suposta superioridade do cinema estrangeiro: ao invés de sentir-se um animal frente aos deuses, o bárbaro frente ao civilizado, o coitado frente ao herói, cineastas como Glauber Rocha, Carlos Diegues e Walter Lima vão influenciar, com o movimento de descolonização cultural, outros cinemas emergentes do Terceiro Mundo.
O Cinema Novo representou a afirmação cultural do cinema brasileiro, que passou a ser considerado como um dos mais revolucionários focos de criação do cinema moderno. A partir desse momento, não haverá mais espaço para a noção de tradução servil, que dará lugar a uma prática tradutória agressiva, destruindo a aura do colonizador cultural, aproximando-se do cerne do conceito de antropofagia segundo Oswald de Andrade: assimilar o que é estrangeiro, transformar o alheio em substância própria e valorizar o que é nativo e primitivo, em outras palavras: igualar-se.
Em entrevista no ano de 2003, Carlos Diegues (http: //cinema.terra.com.br) declarou que, depois de anos de difícil sobrevivência, os novos diretores de cinema do Brasil e Argentina compartilham a busca por recuperar as identidades locais frente à hegemonia do cinema proveniente dos Estados Unidos. Cabe inserir nesse contexto um modo de produção que retrata não uma realidade monológica, mas a pluralidade das culturas, que constrói, ou tenta construir um discurso de identidade associado à questão da linguagem popular reinventada, criando um realismo dentro de uma perspectiva crítica. Esse "realismo reflexivo", estético e pluralista conforme enfatiza Ortiz (ORTIZ, 2001: 172-3), propõe a manifestação de um distanciamento crítico do espectador, levando-o à reflexão sobre o que vê e ouve, contrapondo-se assim, ao "realismo reflexo", cuja univocidade voltada para atender às exigências da indústria cultural, mostra-se incompatível com as propostas revolucionárias dos cineastas do Cinema Novo.
A construção do discurso da identidade, livre da servidão ao discurso alheio, evidencia que muitos de nossos cineastas se posicionam hoje na travessia entre o "realismo reflexo" e o "realismo reflexivo", tal como podemos observar no filme de Eliane Caffé. Em "Narradores de Javé", a cineasta brasileira traduz, do ponto de vista pluricultural e sob vários ângulos (cada morador é um narrador), a história de um povoado que tenta resgatar a memória do sertão baiano. Tomando o povoado de Javé como uma metáfora do Brasil, temos por verdadeiras as palavras de Diegues (IbId.), quando afirma que o cinema segue buscando a identidade do povo brasileiro, encarnada neste filme pela diversidade de vozes que conformam a nossa cultura: um mosaico de diferentes cores, raças, gêneros e religiões.
“Narradores de Javé” marca a luta de um povo, os moradores do Vale de Javé, no sertão baiano, na tentativa de reconstituir sua história perpetuada através da oralidade, buscando garantir sua existência no futuro, que se encontra ameaçado pela Modernidade: a construção de uma represa que fará o povoado desaparecer em suas águas.
A saída apontada pelo Estado para uma possível preservação do povoado seria a de ele possuir algum monumento ou patrimônio histórico que justificasse seu tombamento, certamente pressupondo sua inexistência. De qualquer forma, esta idéia está associada à ideologia governamental que prega a preservação da tradição, da memória popular encarnada numa visão folclórica de busca de identidade cultural e nacional. (ORTIZ, 2001: 163)
Diante desse posicionamento, o povo de Javé resolve encarregar o antigo responsável pela Agência de Correios do povoado - ele era o único alfabetizado do lugar -para ouvir o relato dos moradores e a partir deles, escrever a história do povo do Vale de Javé.
Ao pensar sobre esta proposta, percebemos a supremacia da cultura letrada sobre a cultura popular de base oral. O discurso oficial releva a tradição oral do povo, que só seria reconhecida no momento em que passasse a fazer parte do registro legitimado pela sociedade moderna: o registro escrito. Essa visão preconceituosa e elitista, que considera a cultura letrada superior à oral também marca a presença de um discurso de dominação socioeconômico que nos acompanha desde a época colonial: não podemos nos esquecer que a colonização da América Latina teve como conseqüência o extermínio dos povos indígenas, seguido pelo total desprezo por sua produção cultural, já que para a mentalidade européia, só o registro escrito dava legitimidade e autoridade à história e à cultura de um povo.
No filme em estudo, uma população analfabeta é expulsa de suas terras e vê todo o seu passado destruído, tendo como justificativa a necessidade de um progresso inevitável que beneficiará "um grande número de pessoas", no qual os moradores de Javé não estão incluídos. Também serve como argumento o fato de “não possuírem” uma herança cultural, já que sua história e existência não haviam sido registradas formalmente. Portanto, não possuíam sua cidadania reconhecida, eram cidadãos de segunda classe que não faziam parte de nenhuma estatística, ou seja, não existiam.
Subjacente ao discurso oficial, o que vemos é a visão de uma identidade brasileira que está fragmentada em pares opositivos: civilização x barbárie, tradição oral x tradição escrita, ao invés de estar marcada pela complementaridade. Esta, por sua vez, só será possível quando houver uma tomada de consciência de que mesmo a modernidade sendo inexorável, é imprescindível que a sociedade assuma as suas diferentes manifestações culturais a fim de não comprometer a diversidade, elemento fundamental da identidade brasileira e latino-americana.
O povo de Javé passa então a registrar a sua identidade histórica e cultural, ao relatar ao carteiro da região aquilo que lhes havia sido passado de geração em geração: a saga de seu fundador, Indalécio, no desbravamento do sertão baiano, a fim de fundar um povoado para os seus seguidores. Fato que, ao ser transmitido à posteridade, vai se distanciando cada vez mais do “original”; além disso, ele será permeado pela visão pessoal dos moradores, os quais vão traduzindo-o segundo o seu olhar, sua formação sociocultural e religiosa.
Partindo-se do princípio de que tudo o que se vive, ouve ou vê, passa por um processo interno de releitura e reconstrução conforme o modo de ser e de pensar de cada um, bem como de acordo com a bagagem histórico-cultural que adquirimos no decorrer da vida, podemos dizer que todo ser humano é um tradutor. Assim, ao contar uma cena que presenciamos, esta terá a nossa versão pessoal, não será mais a cena original, mas a sua tradução. Porém, sabemos que o sentido primitivo estará sempre presente em nossas traduções, pois, caso contrário, não seriam traduções e sim ficções, invenções, e perderiam o elo de ligação com o original.
No momento em que todos são narradores/tradutores, temos diversas narrativas relatando o mesmo acontecimento. Há divergências no modo de contar, porém o sentido original, o fio condutor da história, é preservado. É como se a história tivesse se fragmentado em diversas partes, que ao invés de se excluírem, passam a se complementar entre si, de modo que o escritor responsável pela reconstituição da história do Vale de Javé se vê obrigado a juntá-las para chegar a um todo harmônico. No entanto, esta tarefa revela-se impossível, além dos mais, desinteressante, pois é justamente esta diversidade de traduções que conforma a verdadeira identidade de um povo, ou seja, o seu caráter híbrido. O escritor, que por sua vez é também tradutor de todas essas narrativas, sente-se impotente diante de uma tarefa tão complexa e grandiosa. Na verdade, como resolver o dilema de traduzir uma narrativa oral que esteve sempre em movimento, viva na boca dos moradores do vilarejo, para um registro escrito, que, como tal é estático e imutável, e que, acima de tudo, só permite uma versão que é única e definitiva?
Com o carteiro-tradutor, os moradores de Javé sucumbem à Modernidade que não foi capaz de respeitar a diversidade cultural que faz parte do nosso universo. Esta não é vista em sua imensa riqueza e em seu potencial de complementaridade, é sim enquadrada sob o ponto de vista da classe dominante e, portanto, classificada como inferior. “Para o bem de todos”, a pluralidade deve ser superada e substituída pelo “Mesmo”, demonstrando, como vemos no filme, uma total falta de sensibilidade para com os valores alheios. Não há a possibilidade da mescla ou da convivência harmoniosa, o que resta é a adaptação ou a aniquilação total, de modo que o “bárbaro” para atingir a civilização tem que renunciar à sua herança cultural e assimilar acriticamente os valores impostos pelo elemento dominador. Assim, a população de Javé tenta escrever sua história para se ajustar a uma Modernidade, a qual não pertence, já que, neste caso, a diferença é vista como sinal de atraso e é usada para legitimar o seu aniquilamento. Como não conseguem atender às exigências do progresso e da civilização, desaparecem como palavras ao vento.
Ainda que haja no mercado uma demanda por filmes em que a realidade é tratada de forma reflexa, na qual, segundo Ortiz, se reforçam as demandas e exigências do espectador (Ibid: 173), Eliane Caffé confronta o seu público com uma realidade, diante da qual este não tem como ficar passivo, sendo levado a posicionar-se frente à situação retratada. Ao desenhar na tela uma realidade brasileira que mostra as diversas faces formadoras da sociedade, dando voz às etnias, religiões e classes excluídas, a diretora retoma o posicionamento crítico-reflexivo colocado em marcha pelos adeptos do Cinema Novo.
O filme “Narradores de Javé” sinaliza um importante momento de retomada e reencontro do nosso cinema com as diversas formas de expressão da cultura brasileira, nos permitindo entrar em contato com o Brasil de todos os brasileiros.
Rita de Cássia M. Diogo (UERJ)

BIBLIOGRAFIA
BENJAMIN, Walter. La tarea del traductor. In: ANGEL VEGA, M. (org.) Textos clásicos de teoría de la traducción. Madrid: Cátedra, 1994. p. 285-296.
DIEGUES, Carlos. Disponível em: http: //cinema.terra.com.br. Acesso: setembro, 2004.
LAGES, Suzana Kampft. Walter Benjamin: Tradução e melancolia. São Paulo: Edusp, 2002.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cultural. São Paulo: Brasiliense, 2001.
FILMOGRAFIA Narradores de Javé. Diretora: Eliane Caffé. Elenco: José Dumont, Nelson Xavier, Nelson Dantas e outros.

Possibilidades Pedagógicas do cinema em sala de aula

São várias as possibilidades pedagógicas que a projeção de um filme na escola oferece. Tomando como ponto de partida o gosto pelo cinema, este assume papel de protagonista no enredo do processo ensino-aprendizagem.
O debate em torno das questões educacionais tem gerado muitas controvérsias. Não se pode negar, por exemplo, a ampliação, nas últimas décadas, das oportunidades educacionais. No âmbito específico das práticas escolares, o próprio sentido do que seja "educação" amplia-se em direção ao entendimento de que os aprendizados sobre modos de existência, sobre modos de comportar-se, sobre modos de constituir a si mesmo para os diferentes grupos sociais, particularmente para as populações mais jovens se fazem com a contribuição inegável dos meios de comunicação. Fischer (2002) faz indagar a nós professores o modo de construirmos o processo de ensino aprendizagem. Qual o melhor método? O que abordar e contextualizar?
O processo tradicional de ensino não é mais capaz, sozinho, de realizar esta tarefa, está além de suas possibilidades, hoje a educação precisa ultrapassar a sala de aula e atender às necessidades imediatas da sociedade (GOMES, 1981). A relação entre cinema e conhecimento, no entanto, vai além do campo da educação formal. Os novos métodos educacionais devem contar principalmente com a utilização dos meios de comunicação, como o rádio e o cinema (MIRANDA, 2007). Desde os primórdios da produção cinematográfica a indústria do cinema sempre foi considerada, inclusive pelos próprios produtores e diretores, um poderoso instrumento de educação e instrução.
Não é possível ignorar o impacto causado pela criação e difusão do cinema e outros meios de comunicação de massa na sociedade do século XX. De maneira geral, os documentos visuais são utilizados de forma marginal e secundária (FIGUEIRA, 1995). A relação entre cinema e educação, inclusive a educação escolar, faz parte da própria história do cinema, onde o que é específico do cinema em relação ao conhecimento é que este está contido na imagem, ou melhor, na edição das imagens.
Ao considerarmos os conhecimentos e saberes contidos nos filmes, transcendemos o uso do cinema e do audiovisual como ilustração, motivação e exemplo. Cinema é arte.
As artes auxiliam na formação do cidadão ao:
• Mobilizar a expressão e a comunicação pessoal;
• Intensificar as relações dos indivíduos tanto com seu mundo interior como com o exterior;
• Auxiliá-lo a compreender a diversidade de valores que orientam tanto seus modos de pensar e agir como os da sociedade;
• Favorecer o entendimento da riqueza e diversidade da imaginação humana;
• Torná-lo capaz de perceber sua realidade cotidiana mais vivamente, reconhecendo e decodificando formas, sons, gestos e movimentos que estão à sua volta”.

J.L. Moreira

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O que é Letramento - Magda Soares

Letramento em texto didático: o que é letramento e alfabetização

Analfabeto é aquele que é privado do alfabeto, a que falta o alfabeto, ou seja, aquele que não conhece o alfabeto, que não sabe ler nem escrever. Analfabetismo é o modo de proceder como analfabeto. Alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e de escrever. Alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar alfabeto.
É nesse campo semântico que surge a palavra letramento. Na verdade, conhecemos a palavra letrado que significa versado em letras, erudito. Conhecemos também a palavra iletrado que significa não ter conhecimentos literários.
A palavra letramento é nova em nossa língua e surgiu com a autora Mary em seu livro “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística”, sendo em seguida usada em diversos livros, muitos de educação.
O termo letramento surgiu porque apareceu um fato novo para o qual precisávamos de um nome, um fenômeno que não existia antes. Fomos buscar a palavra letramento na palavra inglesa literacy que significa condição de ser letrado. Essa palavra é do mesmo campo semântico que a palavra inglesa literate, que significa pessoa que domina a leitura e a escrita. Pessoa letrada é aquela que aprende a ler e a escrever e que passa a fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se em práticas sociais de leitura e de escrita, ou seja, que faz uso freqüente e competente da leitura e da escrita. A pessoa letrada passa a ter uma outra condição social e cultural, muda o seu lugar social, seu modo de viver, sua inserção na cultura e conseqüentemente uma forma de pensar diferente. Tornar-se letrado traz conseqüências lingüísticas, cognitivas.
Letramento é o estado ou a condição que adquire um grupo social, ou um indivíduo, como conseqüência de ter se apropriado da escrita e de suas práticas sociais. Apropriar-se da escrita é torná-la própria, ou seja, assumi-la como propriedade. Um indivíduo alfabetizado, não é necessariamente um indivíduo letrado, pois ser letrado implica em usar socialmente a leitura e a escritura e responder às demandas sociais de leitura e de escrita.
Uma estudante norte-americana, de origem asiática, Kate M. Chong, escreveu um poema chamado O que é Letramento em 1996. Nele, a autora afirma que letramento não é alfabetização, mas que é prazer, é lazer, é informar-se através da leitura, é usar a leitura paraseguir instruções, é ler histórias que nos levam a lugares desconhecidos, é usar a escrita para se orientar no mundo, é descobrir-se a si mesmo pela leitura e pela escrita. O poema mostra que letramento é muito mais que alfabetização, é um estado, uma condição de quem se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e escritura.
Mas afinal, por que surgiu a palavra letramento? Palavras novas aparecem quando novas idéias, novos fenômenos surgem. À medida que o analfabetismo vai sendo superado, que a sociedade vai se tornando cada vez mais grafocêntrica (centrada na escrita), um novo fenômeno se evidencia: o de que não basta apenas aprender a ler e a escrever, mas, sobretudo, adquirir competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com práticas sociais de escrita. Nesse contexto, faz-se necessário alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se torne, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.
Letramento envolve leitura. Ler é um conjunto de habilidades, de comportamentos e conhecimentos. Escrever, também é um conjunto de habilidades e de comportamentos, de conhecimentos que compõem o processo de produção do conhecimento. Nessa perspectiva, há diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas, do indivíduo, do seu meio, do contexto social e cultural.
Em uma notícia de jornal, foi relatado que o juiz de uma cidade submeteu candidatos a prefeito e vereador a um teste de alfabetização, baseado na lei que proíbe analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos. Para o juiz, alfabetizado era aquele que possuísse o primeiro grau completo e preenchesse formulários sem dificuldades. O juiz definiu ainda o nível do texto que o candidato deveria ser capaz de interpretar e o critério de correção das respostas dos candidatos deveriam pelo menos interpretar um texto de jornal infantil. Sendo assim, demonstrou ter dois conceitos de alfabetização. O primeiro é o conceito genérico, isto é, aplicável a qualquer pessoa. O segundo é o conceito específico, aquele que é aplicável às pessoas que exercem a função de prefeito ou vereador. Cerca de 20 dias depois, foi noticiado que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) foi contrário ao conceito de alfabetização do juiz, considerando que os candidatos eram alfabetizados e concluíram algumas sérias do primeiro grau. O juiz e o TRE tiveram diferentes concepções de alfabetização. O juiz avaliava o letramento, enquanto o TRE avaliava a alfabetização.
A comparação dos critérios utilizados pelo Censo aqui no Brasil e os critério utilizados em países do Primeiro Mundo é esclarecedora. Nos países desenvolvidos, a preocupação é com os níveis de letramento, enquanto no Brasil prevalece o índice de alfabetização. As condições necessárias para o letramento são primeiramente uma escolarização real e efetiva do aluno, secundariamente, que haja disponibilidade de material para leitura.
Letramento: como definir, como avaliar, como medir?
Avaliar o letramento de um indivíduo ou de uma sociedade cosntitui-se um desafio.
Como poderemos buscar índices de níveis de domínio da habilidade de leitura e escrita e dos seus usos em práticas sociais? A maior dificuldade em se avaliar o letramento está na questão de primeiramente definirmos letramento, para a partir dela, determinar os critérios para avaliá-lo.
Mas que critérios utilizaremos visando as diferentes situações aos quais os sujeitos estão inseridos?
Esta não é uma tarefa muito fácil se tivermos em vista que o letramento cobre uma vasta gama de conhecimentos, de habilidades, capacidades e funções, tornando-se difícil de contemplarmos todos esses aspectos em apenas uma definição. O letramento possui duas dimensões, que são no mínimo paradoxais, quais sejam a dimensão individual e a dimensão social. Na dimensão individual, o letramento é visto no âmbito pessoal, eanquanto na dimensão social, o letramento é visto como um fenômeno cultural.
Com relação à Dimensão Individual do Letramento fica difícil a sua definição, pois letramento implica em diversas habilidades. A primeira dificuldade entra na questão de saber ler e escrever. Não pode-se confundir e acreditar que, necessariamente, quem sabe ler, sabe escrever, pois não é exato. Temos que ter em vista as peculiaridades de cada uma dessas habilidades.
Por leitura, entende-se que ultrapassa a decodificação de letras. Leitura implica diversas habilidades cognitivas e metacognitivas, tais como captar significados, interpretar seqüências de idéias ou de eventos, analogias, comparações, linguagem figurada, relações complexas, análogas, e ainda, a habilidade de fazer previsões iniciais sobre o sentido do texto, entre tantas outras habilidades.
Por escrita, na dimensão individual de letramento, entende-se um conjunto de
habilidades lingüísticas e psicológicas, como a habilidade de registrar unidades de som até a capacidade de transmitir idéias ao leitor pretendido. É um processo de expressar idéias e organizar o pensamento em linguagem escrita. O letramento é constituído por competências distribuídas de maneira contínua, cada ponto ao longo desse contínuo indicando diversos tipos e níveis de habilidades, capacidades e conhecimentos que podem ser aplicados a diferentes tipos de material escrito. Essas definições, considerando a dimensão individual, determinam quais habilidades de leitura e de escrita caracterizam uma pessoa letrada?
Desde a Dimensão Social do Letramento este é o conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e à escrita em que os indivíduos se envolvem em seu contexto social. As relações entre letramento e sociedade não podem ser dissociadas dos seus usos, de formas empíricas que elas realmente assumem na vida social.
Na perspectiva liberal de letramento, este é definido em termos de habilidades necessárias para que o indivíduo funcione adequadamente em seu contexto social. Vem daí o termo letramento funcional, definido como sendo os conhecimentos e habilidades de leitura e de escrita que tornam uma pessoa capaz de engajar-se em todas aquelas atividades nas quais o letramento é normalmente exigido em seu contexto social.
Dessa forma, o letramento tem um enfoque de funcionalidade, que implica em adaptação dos indivíduos. O letramento é, assim, considerado como responsável por produzir resultados importantes no desenvolvimento cognitivo e econômico, mobilidade social, progresso profissional e cidadania.
Nesse modelo, o letramento aumenta a consciência dos sujeitos sobre as suas vidas e sua capacidade de lidar racionalmente com decisões e dessa forma poder conscientizar-se da sua realidade até transformá-la.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Leitura e Processos de Escrita - TP4


Abertura:
Leitura dos depoimentos de Patativa de Assaré quanto às suas práticas de leitura e de Paulo Freire contando como aprendeu a escrever quando ainda criança. Realização da atividade pag.20

Abordagens- Unid.13
. Leitura, escrita e cultura;
. O letramento > aprendemos a ler e escrever à medida que nos alfabetizamos ao longo da vida e adquirimos esperiências nas diversas situações sóciocomunicativas;
. Letramento e diversidade cultural > quando lemos e interpretamos um texto utilizamos conhecimentos construídos a fim de construirmos o novo;
. Conhecimento prévio e a atividade de leitura e escrita;
. Diferenciando o "ler" do compreender o texto > o ler está relacionado com o reconhecer as palavras, a compreensão do texto utiliza essas palavras para construir imagens, pensamentos, raciocínios.

Estudo do "Ampliando nossas referências" e realização das questões.
Orientação para o Avançando na prática em sala de aula - pag.31

Projeto: O Texto e o Contexto em sala de aula

TEMA: Gêneros Textuais – formas concretas de participação social.


JUSTIFICATIVA:
O ensino dos diversos gêneros textuais que socialmente circulam entre nós, além de ampliar sobremaneira a competência lingüística e discursiva dos alunos, dá indicações sobre as inúmeras formas de participação social que eles, como cidadãos, podem ter fazendo uso da linguagem.

PROBLEMÁTICA:

Sabemos hoje que as práticas didático-pedagógicas de Língua Portuguesa precisam considerar a diversidade de textos existentes em nossa sociedade e levar em conta a necessidade de tornar nossos alunos competentes leitores e produtores de textos. Nosso desafio, enquanto responsáveis pelos processos de ensino-aprendizagem, está em criar situações de sala de aula que permitam aos alunos a apropriação desta diversidade.
È necessário que as práticas de leitura e de produção de texto ganhem sentido sem que o professor as transforme em situações voltadas, única e exclusivamente, para avaliação e correção.


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:

“Todo texto se organiza dentro de um determinado gênero. Os vários gêneros existentes, por sua vez, constituem formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Pode-se ainda afirmar que a noção de gêneros refere-se a 'famílias' de textos que compartilham algumas características comuns, embora heterogêneas, como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literariedade, por exemplo, existindo em número quase ilimitado.”
Parâmetros Curriculares Nacionais, volume 2 - Língua Portuguesa (MEC, 1997)


Possenti (1996: p.20) afirma ainda que é necessário que os alunos “leiam produtivamente textos também variados: textos jornalísticos, como colunas de economia, política, educação, textos de divulgação cientifica em vários campos, textos técnicos”.

Segundo Soares (2000, p.42), letramento é estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita. [...] Letramento é prazer, é lazer, é ler em diferentes lugares e sob diferentes condições [...] Letramento é informar-se através da leitura, é buscar notícias e lazer nos jornais, é interagir com a imprensa diária, fazer uso dela, selecionando o que desperta interesse, divertindo-se com as tiras de quadrinhos.


OBJETIVO GERAL:

Espera-se que o aluno amplie o domínio ativo do discurso nas diversas situações
comunicativas, de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita, ampliando suas possibilidades de participação social no exercício da cidadania.


OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

• Desenvolver no aluno a competência como leitor para obter informações, interpretar dados e fatos, recrear-se, recriar, comparar e compreender textos.

• Promover o saber como proceder para ter acesso, compreender e fazer uso de informações contidas nos textos, reconstruindo o modo pelo qual se organizam.

• Analisar criticamente os diferentes discursos, inclusive o próprio, desenvolvendo a capacidade de avaliação dos textos.

• Oportunizar a leitura e análise de uma grande variedade de textos/ gêneros textuais e seus respectivos portadores;

• Apropriar-se dos conhecimentos lingüísticos em processos de reflexão e operação sobre a linguagem, em práticas contextualizadas de leitura e produção de textos.


METODOLOGIA:

Partindo do pressuposto de que a apropriação dos gêneros discursivos, pelos nossos alunos, não pode estar limitada ao que os livros didáticos trazem, nem ao que oferecem como atividades, iremos centrar nossa discussão em projetos didáticos realizados em salas de aula, cujo eixo central esteja relacionado ao exercício da linguagem oral, à leitura e produção de textos dos mais variados gêneros.
Estaremos, para isso, utilizando a tabela sugerida nos Parâmetros Curriculares
Nacionais – Língua Portuguesa:


GÊNEROS PRIVILEGIADOS PARA A PRÁTICA DE ESCUTA e LEITURA DE TEXTOS

LINGUAGEM ORAL

• LITERÁRIOS: cordel, causos e similares
texto dramático
canção


• DE IMPRENSA: comentário radiofônico
entrevista
debate
depoimento


• DIVULGAÇÃO: exposição
CIENTÍFICA seminário /debate
palestra


• PUBLICIDADE: propaganda


LINGUAGEM ESCRITA


• LITERÁRIOS: conto
novela
romance
crônica
poema
texto dramático

• DE IMPRENSA: notícia
editorial
artigo
reportagem
carta do leitor
entrevista
charge e tira


• DIVULGAÇÃO: verbete enciclopédico
CIENTÍFICA relatório de experiências
didático (textos, enunciado de questões)
artigo


• PUBLICIDADE: artigo
propaganda



GÊNEROS SUGERIDOS PARA A PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS E ESCRITOS


LINGUAGEM ORAL



• LITERÁRIOS: canção
textos dramáticos




• DE IMPRENSA: notícia
entrevista
debate
depoimento



• DIVULGAÇÃO: exposição
CIENTÍFICA seminário
debate


INGUAGEM ESCRITA


• LITERÁRIOS: crônica
conto
poema



• DE IMPRENSA: notícia
artigo
carta do leitor
entrevista


• DIVULGAÇÃO:
CIENTÍFICA relatório de experiências
esquema e resumo de artigos de verbetes
de enciclopédia


RECURSOS MATERIAIS:

• Textos e atividades de todos os AAAs de acordo com o nível da turma;
• Jornais do município e de circulação nacional;
• Revistas em quadrinhos;
• Revistas informativas (Veja, Época, etc);
• Revista Ciências Hoje da criança;
• Livros da biblioteca: de contos, crônicas, romances, poemas.



PRODUÇÃO COM APOIO:

Para os alunos com maiores dificuldades na produção de texto, iniciaremos o trabalho com a produção com apoio como sugerido no PCN – Língua Portuguesa- 3º e 4º ciclo/Ensino fundamental:

A constatação das dificuldades inerentes ao ato de escrever textos — dificuldades decorrentes da exigência de coordenar muitos aspectos ao mesmo tempo — requer a apresentação de propostas para os alunos iniciantes que, de certa forma, possam “eliminar” algumas delas, para que se concentrem em outras. É importante que essas situações sejam planejadas de tal forma que os alunos apenas se preocupem com as variáveis que o professor priorizou por se relacionarem com o desenvolvimento do conteúdo em questão. Por exemplo:
• reescrever ou parafrasear bons textos já repertoriados mediante a leitura;
• transformar um gênero em outro: escrever um conto de mistério a partir de uma notícia policial e vice-versa; transformar uma entrevista em reportagem e vice-versa, etc.;
• produzir textos a partir de outros conhecidos: um bilhete ou carta que o personagem de um conto teria escrito a outro, um trecho do diário de um personagem, uma mensagem de alerta sobre os perigos de uma dada situação, uma notícia informando a respeito do desfecho de uma trama, uma crônica sobre acontecimentos curiosos, etc.;
• dar o começo de um texto para os alunos continuarem (ou o fim, para
que escrevam o início e o meio);
• planejar coletivamente o texto (o enredo da história, por exemplo) para que depois cada aluno escreva a sua versão (ou que o façam em pares ou trios).


REVISÃO DE TEXTO:

Revisão de texto é o conjunto de procedimentos por meio dos quais um texto é trabalhado até o ponto em que se decide que está, para o momento, suficientemente bem escrito. Pressupõe a existência de rascunhos sobre os quais se trabalha, produzindo alterações que afetam tanto o conteúdo como a forma do texto.
Para tanto, precisam aprender a detectar os pontos onde o que está dito não é o que se pretendia, isto é, identificar os problemas do texto e aplicar os conhecimentos sobre a língua para resolvê-los: acrescentando, retirando, deslocando ou transformando porções do texto, com o objetivo de torná-lo mais legível para o leitor.
A revisão de texto, como situação didática, exige que o professor selecione em quais aspectos pretende que os alunos se concentrem de cada vez, pois não é possível tratar de todos ao mesmo tempo.
É interessante utilizar, também, textos alheios para serem analisados coletivamente, ocasião em que o professor pode desempenhar um importante papel de modelo de revisor, colocando boas questões para serem analisadas e dirigindo o olhar dos alunos para os problemas a serem resolvidos.


CRONOGRAMA:
O projeto será desenvolvido durante o 1º semestre de 2010.
No primeiro mês privilegia-se os gêneros literários. Teremos a semana do conto, do romance, do poema, da crônica, do texto dramático.
No segundo mês é a vez dos textos de imprensa. Teremos a semana da notícia, do artigo, da carta do leitor, da entrevista, etc
No 3º mês trabalharemos com textos de divulgação científica e no 4º mês com textos de publicidade.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais (de 1a a 4a séries e de 5a a 8a séries). Brasília, SEF/MEC, 1997/1998.
KAUFMAN, Ana Maria & RODRIGUEZ, Maria Elena. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre, ArtMed, 1995.

Maria Irene. "Correspondências: um bom incentivo à leitura e a escrita". Projeto Produção de texto através de correspondência. Escola de ensino fundamental Odylo Álvares de Souza, Rio Largo/ Alagoas, 2001.
MAIA, Ângela Maria dos Santos. O Texto poético: leitura na escola. Maceió: Ed. UFAL, 2001.