sábado, 12 de setembro de 2009

Memorial de leitor

MEMORIAL DE LEITOR

(...) “desde cedo, então as histórias e as canções de ninar são as primeiras palavras que ouvimos. As histórias, as rimas de berço vão encadeando sentidos e significados. Com elas conhecemos a nós mesmos e outros. Descobrimos quem somos e em que mundo de cultura estamos inseridos. Todos nós precisamos de histórias e canções para viver plenamente.” Bartolomeu de C. Queiroz


Venho de uma família numerosa, de doze irmãos. Minha mãe era costureira e meu pai comerciante em um pequeno município do Estado do Espírito Santo. Eles, apesar de terem freqüentado pouquíssimo a escola, tinham uma linguagem bastante correta.
A aquisição da linguagem escrita e dos saberes da escola sempre foram importantes para minha família e minha mãe mesmo com todos aqueles afazeres da casa e as encomendas de costura, tinha como razão primeira, a entrada de todos os seus filhos na escola.
Minhas irmãs mais velhas traziam da escola todas as novidades aprendidas e repartiam conosco, os mais novos. Como eu era a décima primeira, meu gosto pela leitura foi despertado muito cedo e de uma forma muito natural, por isso ao entrar na escola já estava lendo.
Recordo-me da minha primeira cartilha “Upa, Cavalinho” que foi “devorada” em poucos minutos por meus olhos curiosos para pouco depois se tornar desinteressante por que era muito repetitiva: upa , upa, cavalinho! Cavalinho upa!
Mas, só descobri o verdadeiro sabor da leitura quando ao passar alguns dias em casa de minha irmã mais velha, que já estava casada, deparei-me com uma coleção de mini livros de histórias infantis, dentre elas “ O Lobo Mau”, Chapeuzinho Vermelho”, “Os três Porquinhos” que me deixaram maravilhada. Li todos em uma semana.
A leitura se firmava como fator de minha ligação com um mundo novo, desconhecido. E lia, lia e lia muito. Meu pai, percebendo essa queda pela leitura, pedia-me muitas vezes para ler para ele trechos da Bíblia, o que eu fazia com prazer, embora na época não entendia o conteúdo bíblico.
No meu curso primário, como era então chamado, a leitura nem sempre era muito prazerosa. Os livros didáticos eram enfadonhos e maçantes e a leitura obrigatória não me agradava. No entanto, passei a ler algumas revistas muito divulgadas na época e que eram de minhas irmãs- as famosas fotonovelas - “Capricho”, “Contigo”.
No curso ginasial não tivemos muito incentivo para ler, me recordo do ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis cuja leitura foi para mim como um castigo porque além de ler para “fazer prova”, o assunto não me atraiu nem me agradou. No entanto, nessa mesma época, meu irmão, que estava fazendo uma faculdade, adquiriu uma coleção de romances de José de Alencar e a esses li com avidez porque gostei daquele estilo romântico, cheio de descrições lindíssimas com tanta riqueza de detalhes desse grande escritor brasileiro. Li “A viuvinha”, “A mão e a luva”, “Iaiá Garcia”, “ Cinco minutos” dentre outros.
Esse gosto acentuado pela literatura é que me fez escolher o curso de Letras quando desejei fazer uma faculdade, já casada, mãe de dois filhos e grávida de outro. Na faculdade li muito e leio até hoje. Para mim, a leitura é algo natural como qualquer outra coisa, porém muito prazerosa. Sei, no entanto, que meu processo de leitura ainda está começando... tenho AINDA um mundo inteiro de leituras pela frente!!!

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